sábado, 16 de julho de 2011

Se Flamengo curte boa fase, 'primo pobre' vive crise técnica e política

Derrotado em todas as partidas do returno do Campeonato Piauiense, Rubro-Negro ficou sete meses sem um presidente



Por Fred Gomes Rio de Janeiro




Flamengo-PI (Foto: Raoni Barbosa / ODIA)


Flamengo-PI tem brigado com a bola durante o
estadual local (Foto: Raoni Barbosa / ODIA)

Enquanto o Flamengo de Ronaldinho & Cia. realiza uma boa temporada, com direito a título estadual invicto, vice-liderança do Brasileiro e apenas uma derrota, seu xará do Piauí vive um momento negro de sua história. A Raposa, apelido do Fla local, encerra sua participação no Campeonato Piauiense neste sábado, contra o Picos, no Estádio Municipal Lindolfo Monteiro. Com apenas sete pontos em 15 jogos, a equipe - derrotada em todas as partidas do segundo turno - entraria em campo já rebaixada. A queda, porém, não se consumará pois não há rebaixamento previsto no regulamento deste ano, repetindo o do ano passado.


O presidente do Esporte Clube Flamengo, Jankel Costa, empossado no último dia 3, tenta explicar a crise.


- Estávamos sem presidente desde dezembro, quando a oposição, com uma liminar judicial, impediu a eleição sob a alegação de que ela não seria realizada de acordo com o estatuto do Flamengo. Assim, após a saída do Everaldo Cunha (presidente que o antecedeu e de quem Jankel era vice), a Justiça nomeou um interventor (José Telles). Ele, que nem torcedor do Flamengo é, assumiu o clube. Depois disso, como o José Telles não remarcou as eleições, algo que deveria ter feito, outro interventor, Raimundo Miranda, foi nomeado. Ele remarcou o pleito para o último dia 3, e eu venci Fernando Modesto por 62 votos a 50 - explicou, por telefone.


Nossos treinos não são em
dois períodos, pois os jogadores precisam de vale-transporte.
Às vezes, tiramos do nosso
próprio bolso"

Laércio, zagueiro

Em relação à péssima campanha do Rubro-Negro em campo, o massagista Neto Amâncio tem uma explicação simples: as péssimas condições de treino e salários irrisórios. A imprensa local, aliás, trata o local das atividades flamenguistas como um campo de várzea.


- Não era um campo de várzea, mas não é adequado para a prática do esporte. Muito duro, ele tem provocado diversas tendinites de joelho e tornozelo nos atletas. Não tínhamos trave móvel para treinar nossos goleiros. Os outros times treinam em dois expedientes enquanto nós só treinávamos em um período. Não fizemos trabalho em academia. Além disso, não dá para formar um time bom com jogadores ganhando entre R$ 500 e R$ 800. Um ou outro chegavam a um salário de R$ 2 mil, mas é muito raro. Acho que isso se deve aos seis meses em que ficamos sem diretoria. Agora temos presidente e acredito que as coisas vão melhorar - resumiu.


O zagueiro Laércio, um dos mais experientes do grupo, com 27 anos, endossa as palavras de Neto e amplifica a crise técnica da equipe, creditando-a à estrutura precária do clube.


- Treinamos num campo de pelada chamado Parentão, no subúrbio. À tarde, a população local joga bola ali. Como chegamos lá pela manhã, nunca precisamos pedir para ninguém sair, mas o Flamengo não nos oferece nenhuma estrutura. Nossos treinos não são em dois períodos, pois os jogadores precisam de vale-transporte. Às vezes, tiramos do nosso próprio bolso. Falta dinheiro para pegar ônibus duas vezes para a maioria do time. Em geral, eles tiram um salário mínimo (R$ 545). Recebo um pouco mais por ter mais rodagem - explicou.


Augusto Melo Flamengo-PI (Foto: Raoni Barbosa / ODIA)


O Fla de Augusto Melo perdeu os sete jogos do
returno no Piauí (Foto: Raoni Barbosa / ODIA)

O defensor ainda atribui os sete pontos conquistados em 15 jogos à entrada de garotos oriundos do Rio de Janeiro, todos trazidos por um empresário - Laércio, Jankel e Everaldo garantiram não saber o nome dele.


- A maioria tinha entre 20 e 21 anos. Acredito que eles não se adaptaram ao nosso futebol. Quase todos assinaram seu primeiro contrato no Flamengo. Agora tive uma informação de que foram jogar a Segunda Divisão de Goiás. Essa crise política explica nossa queda. De 2009 a 2010 ficamos 29 jogos invictos. O Fla sempre teve problemas, mas neste ano ele extrapolou. Confesso que não tenho planos de ficar - concluiu.


O presidente Jankel Costa garante que a diretoria anterior não tem qualquer responsabilidade pelo fracasso do clube e promete recorrer ao primo rico Flamengo. Assim, ele acredita que poderá limpar o nome do Rubro-Negro do Piauí, que participou da Série A nos anos de 1976, 1977, 1978, 1980 e 1985.


Vou me reunir com a Patrícia Amorim e o Helinho (Ferraz, vice-presidente) e demonstrar a situação do nosso Flamengo, o primo pobre"

Jankel Costa, presidente

- Vou me reunir com a Patrícia Amorim e o Helinho (Ferraz, vice-presidente) e demonstrar a situação do nosso Flamengo, o primo pobre. Espero aprender com eles modelos de administração, conseguir know-how e, no ano que vem, vocês vão nos procurar para fazer uma reportagem sobre o título estadual do meu Flamengo - concluiu.


O fato é que o Flamengo-PI encerra suas atividades futebolísticas de 2011 no sábado moralmente rebaixado. E não seria a primeira queda do clube - caiu pela primeira vez em 2007. Segundo o próprio presidente Jankel, o retorno à elite piauiense só foi possível após uma manobra no tapetão.

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