segunda-feira, 11 de julho de 2011

Pequeno pitaco sobre o caso Kleber

por Julio Gomes, blogueiro do ESPN.com.br

Não estou em uma fase, digamos, muito ativa nos bastidores do futebol. Então, o que eu sei do caso Kleber vem do noticiário, do ouvido atento às entrevistas dadas hoje e das informações dos repórteres que acompanham o caso.

Marcos disse que todas as partes estão certas, mas quanto mais penso no caso avalio que todas as partes estão, na verdade, erradas.

A lógica fácil da situação: o Flamengo tem direito a oferecer um salário maior a um jogador de outro time; Kleber, com isso em mãos e sabendo de outros salários do Palmeiras, tem direito de pedir mais; o Palmeiras, com o contrato em mãos, tem direito de exigir que este seja cumprido.

Mas todas essas lógicas acima podem ser descontruídas. E aí o imbróglio se forma. Hoje, há um verdadeiro impasse.

Vejamos. A regra da Fifa é claríssima para esses casos. Um clube só pode conversar diretamente com um jogador se este estiver nos últimos seis meses de contrato, o que não é o caso de Kleber. Salvo essa situação, um clube X precisa se acertar com o clube Y para, então, falar com o jogador. O Flamengo não pode fazer o que está fazendo.

Logicamente, essa é a regra mais difícil de ser seguida e de ver ser seguida. Burlar essa regra é algo em que José Mourinho, Alex Ferguson e grandes clubes europeus são especialistas. Isso dá um desconto, mas não deixa de tirar a razão do Flamengo na história. Não cola o discurso do "livre comércio", "um time tem direito de querer o jogador do outro". Sim, tem. Mas vai lá, negocia com o "outro" e, SÓ DEPOIS, com o jogador.

Agora, o Kleber. Vamos considerar a premissa de que ele mereça, sim, um aumento. Que seu salário esteja defasado pela importância que tem no clube, no futebol brasileiro, etc. Ótimo, ele tem todo o direito de pedir um reajuste, de negociar por um novo e melhor contrato.

Mas não tem direito de desrespeitar o vigente, que está assinado por ele. O cara não pode treinar bem a semana inteira e aparecer com dor na véspera do jogo (todo mundo que sabe o mínimo de futebol sabe que a lesão é cascata, que, não fosse o imbróglio, o Gladiador teria jogado hoje. Todos sabemos que jogador entrar em campo sem dor é uma ilusão. A profissão de esportista de elite é doída, são os ossos do ofício).

E, o fundamental: o cara não pode simplesmente não aparecer na concentração. É como faltar sem avisar. Não pode, é antiprofissional. Primeiro, tem que cumprir as obrigações. Depois, pedir mais.

Por fim, o Palmeiras. Talvez, vendo de fora, o menos errado de todos. Mas nós não sabemos - ou eu não sei, pelo menos - se algum dirigente do Palmeiras prometeu o tal aumento ao Kleber. Vai saber se o presidente ou vice ou algum diretor chegou para o cara e disse mundos e fundos. São os detalhes de bastidores que precisariam vir a público, se é que existem.

Se isso não aconteceu, o Palmeiras tem razão de estar bravo. De exigir que o Flamengo pague a multa rescisória na íntegra ou deixe seu jogador em paz. E exigir que seu jogador, seu melhor jogador, se dedique, faça gols e cumpra suas obrigações. Agora, em um clube tão dividido politicamente, é difícil imaginar que Kleber não tenha ouvido promessas de aumento de algum lado.

Todos têm sua parcela de razão. E todos estão errados, de alguma forma.

No fim das contas, vai acontecer o que Kleber e seu empresário quiserem. Porque sempre é assim no futebol. No fim, é o cara quem entra em campo e joga, então é ele quem determina seu futuro. Um dia, os jogadores foram quase escravos. Hoje, eles têm as leis a seu lado. É bom que seja assim. Mas que está enchendo esse poder todo, está...


Um comentário:

ADALFO disse...

O LAMENTÁVEL NISSO TUDO É QUE OS CARIOCAS SE ACHAM MAIS ESPERTOS QUE TODO MUNDO, PENSAM QUE PODEM DA "MIGUÉ" GERAL, ELES TÊM QUE APRENDER A RESPEITAR O QUE ESTÁ ESCRITO. ESSA MÁXIMA SÓ VALE PRA ELES, "MALANDRO É MALANDRO E MANÉ É MANÉ",