quinta-feira, 30 de junho de 2011

Ronaldinho e a crise do jornalismo-manja

por Lúcio de Castro


É grave a crise no jornalismo-manja. Velho senhor da razão, o tempo vai se encarregando de expor a fragilidade da argumentação manja. O cinismo do principal argumento manja vai se desmoralizando. Melhor assim. Até respeitarei um pouco mais os manjas quando, em praça pública, confessarem que são manjas por prazer, incapacidade de praticar outro tipo de modalidade jornalística ou sobrevivência. O que não é mais possível é a monótona repetição do único argumento da bíblia-manja, o cínico e surrado: “quando a vida pessoal está atrapalhando o desempenho vira notícia”.

Pois então vejamos: em um determinado momento, Adriano cometia um monte de faltas em sua vida profissional mas decidia em campo. Os manjas noticiavam a vida pessoal dele. Mas o desempenho, naquele momento, não estava prejudicado, expondo assim a fragilidade do argumento.

Tempos depois, Ronaldinho Gaúcho foi diametralmente oposto: cumpria todas as obrigações (horários, treino) mas não decidia em campo. Da mesma forma, manjavam. Configurando assim enorme contradição e deixando claro que a questão é manjar.

O tal argumento é apenas uma muleta, convencendo apenas os incautos.
Agora Ronaldinho Gaúcho está decidindo. E continuam a manjar. E que não me venham dizer que ele mudou a conduta, parou de noitada... Nem a boa Velhinha de Taubaté acreditaria, certo?

Então chegamos a um ponto crucial nessa história, que desnuda o cinismo da argumentação manja: quem então bate o martelo e decide sobre o desempenho, sobre a vida pessoal atrapalhando a performance?

Será por acaso assim: partir daqui o desempenho é sujeito a manjada da vida pessoal, até aqui não! É assim? Que desempenho afinal é esse avaliado pelos manjas para legitimar a manjada? Gols? Não, afinal, Adriano fazia e era manjado. Horário e comparecimento no treino? Não, afinal, Ronaldinho cumpre isso tudo e é manjado.

Valências físicas, testes de explosão, resistência? Não. Sabemos que não estão acessíveis, e tampouco algum manja tá falando em cima deles, comparando com algo. Manjando com bases científicas!

Quer dizer que a decisão sobre o ponto onde o desempenho ser bom ou ruim que justifique a manjada é do próprio Manja? Que coisa mais engraçada, não fosse o cúmulo do cinismo.

(Nem precisava, claro, mas fica sempre a ressalva do que torna algo público no sentido mais republicano: sempre que existir um registro policial, médico, etc, aí sim, não estamos falando em subjetividade da cabeça coroada de um manja avaliando se a partir de tal ponto de desempenho pode-se manjar. Aí sim falamos de algo público). Repito: isso tá ficando engraçado, o manual do manja, não fosse cínico!

Aqui as coisas começam a ficar mais claras: o critério então para avaliar desempenho é da cabeça de cada Manja. Subjetivo. O que me faz lembrar a velha interrogação, que fez sucesso em tempos idos: são deuses os jornalistas? É assim? Decidimos que podemos avaliar o desempenho de cada um para, a partir do limite que for por nós mesmos estabelecido, manjar a vida dos outros?

Os Reis-Manjas estão nus. Não há argumento, nem mesmo o tal surrado e cínico do “vida pessoal atrapalhando o desempenho” que legitime um manja. Por algum tempo, gente boa acabou aceitando o torpe argumento. Que vai se esgotando. Mesmo que ainda gere e divulgue coisas mais torpes ainda, como disques-denúncias e alimente uma legião de pequenos-manjas em cada esquina, numa irresponsável cadeia que gera violência e agressão com quem é vítima da manjada.

Não bastasse, e aqui falo de minha aldeia, a traição ao espírito dessa cidade, que sempre se notabilizou por não se preocupar em manjar. Mas São Sebastião é mais forte. Nada sustenta o cinismo do jornalismo-manja. Que passará, como passarão os Manjas, recolhidos a insignificância de suas passagens e obras.

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