quarta-feira, 17 de novembro de 2010

De galáctico a mortal: números de Luxa despencam nos pontos corridos

Entre 2003 e 2010, aproveitamento do técnico no Brasileiro cai mais da metade. Edição atual é marcada pelos piores números da carreira dele



Os títulos de Vanderlei Luxemburgo não cabem nos dedos das mãos: campeonato carioca, paulista (várias vezes), mineiro, capixaba, do Rio-São Paulo, da Série B, Copa do Brasil, Copa América, Pré-Olímpico. O que impressiona mesmo, no entanto, é a intimidade do técnico do Flamengo com o Campeonato Brasileiro. Foram cinco conquistas, por quatro clubes diferentes. Palmeiras (1993 e 1994), Corinthians (1998), Cruzeiro (2003) e Santos (2004). Luxa e o Nacional viraram sinônimos. É o treinador mais vitorioso da história da competição, tornou-se referência, uma espécie de “mister Brasileirão”.

Vencer, tantas vezes, o campeonato mais difícil do país, um dos mais disputados do mundo, deu a Luxa o status de galáctico. Fez também com que a expectativa e a cobrança sobre o trabalho dele aumentassem consideravelmente. Virou técnico de Seleção Brasileira, dirigiu o pomposo Real Madrid, da Espanha. O ex-lateral-esquerdo do Flamengo da década de 70, reserva de Júnior, cruzou fronteiras como treinador.

Os números costumam ser aliados de Vanderlei. Entretanto, também são implacáveis. Avassalador no início da era dos pontos corridos, ele vive um choque de realidade. Entre 2003 e 2010, o aproveitamento do técnico despencou. O GLOBOESPORTE.COM mostra, no gráfico abaixo, que o percentual de desempenho caiu mais da metade. Ele passou de galáctico e mortal.

Em 2003, na primeira edição do Brasileiro no sistema todos contra todos em dois turnos, alcançou a marca dos 100 pontos com um Cruzeiro sobrenatural (também vencedor da Copa do Brasil e do Mineiro daquele ano). Título conquistado com duas rodadas de antecedência e vantagem de 13 pontos sobre o Santos, vice-campeão. Um impressionante aproveitamento de 72,4% tirou a graça da disputa para os outros 23 concorrentes.

No ano seguinte, desta vez pelo Santos, repetiu a façanha, mas já sem a mesma facilidade. O título viria apenas na última rodada, com 89 pontos. Só três a mais que o Atlético-PR. O aproveitamento continuava admirável: 67,4%.

Em 2005, Luxa transferiu-se para o Real Madrid. Passou uma temporada no clube espanhol até ser demitido em dezembro daquele ano. Pouco tempo depois, estava de volta ao Santos. No retorno, encontrou um Campeonato Brasileiro diferente, com quatro equipes a menos (o número de participantes caíra de 24 para 20) e ainda mais concorrido. Com o quarto lugar de 2006, levou o Peixe à Libertadores da América. Na campanha, fez 64 pontos, alcançou 56,1% de aproveitamento.

Na temporada seguinte, Luxa e Santos perseguiram o São Paulo na disputa do título. A desvantagem para o Tricolor Paulista, no entanto, superou a marca de dez pontos: 77 a 62. O aproveitamento da equipe do treinador foi de 54,3%. O percentual foi inferior ao de 2008. De volta ao Palmeiras, ele foi quarto colocado. Fez 65 pontos, 57% do total disputado.

Em 2009, Luxemburgo dividiu-se entre Palmeiras e Santos. Eliminado nas quartas de final da Libertadores com o Alviverde, foi demitido do clube no mês de junho, após comentar a transferência do atacante Keirrison para o Barcelona, da Espanha. Os dirigentes alegaram quebra de hierarquia. No Nacional, comandou a equipe em sete partidas: três vitórias, três empates e uma derrota. Quase um mês depois de sair do Palestra Itália, retornou ao Peixe. O resultado no Brasileiro foi fraco, o pior que teve no comando da equipe da Vila Belmiro: apenas o 12º lugar, com 49 pontos. Somadas as campanhas, um aproveitamento de 47,4%.

O técnico não continuou no Santos por conta da derrota do então presidente Marcelo Teixeira na tentativa de reeleição. Em dezembro de 2009, acertou a transferência para o Atlético-MG, investiu num projeto ambicioso e promissor de duas temporadas. O ano de 2010 até começou bem, com o título estadual. No entanto, a eliminação na Copa do Brasil, uma série de lesões e um desempenho pífio no Brasileiro sentenciaram: demissão. Em 23 de setembro, após ver o Galo ser goleado por 5 a 1 pelo Fluminense, acabou dispensado pelo presidente Alexandre Kalil (assista ao vídeo ao lado). Foram nove meses de um sonho que não vingou. Deixara o time na 18ª posição, com 21 pontos, com aproveitamento de 29,16%: seis vitórias, três empates e impressionantes 15 derrotas. Para se ter uma ideia, Dorival Júnior, seu sucessor, disputou até aqui 11 partidas. O aproveitamento é de 54,5%.

Ao sair de Belo Horizonte, Luxa chegou a dizer que seria necessário passar por uma reciclagem.
Não houve tempo para tanto. No início de outubro, acertou o retorno ao Flamengo (trabalhou na Gávea em 1991 e 1995) e assinou um contrato de dois anos com o clube do coração. Encontrou o Rubro-Negro em borbulhante crise política por conta da saída de Zico, então diretor executivo de futebol, e nas cercanias da zona de rebaixamento. Desde então, não conseguiu afastar a equipe dali. Em oito jogos, foram duas vitórias, quatro empates e duas derrotas, aproveitamento de 41,6%.

A pior campanha dos 19 Brasileiros que já disputou

O percentual de aproveitamento alcançado por Luxemburgo após 32 jogos no Brasileirão 2010 (24 pelo Galo e oito pelo Fla), é o pior das 19 edições que ele já disputou. Somadas as duas campanhas, o índice é de 32,2%, inferior ao alcançado em 1983, ano da estreia dele na Série A, à frente do modesto Campo Grande, do Rio de Janeiro. O treinador teve um aproveitamento de 37,5%. É bom que se diga que, em 1986, Vanderlei comandou o Fluminense em apenas uma partida – que terminou com derrota –, o que invalida a comparação.

Procurado pelo GLOBOESPORTE.COM, o técnico não quis comentar os números. Prefere uma análise das conquistas, dos resultados positivos. Vanderlei costuma dizer que torcedores e especialistas passaram a querer que ele conquiste sempre o Campeonato Brasileiro. Em conversa informal com os jornalistas, comentou que os clubes passaram a entender melhor a fórmula de disputa com pontos corridos, o que tornou a competição mais equilibrada. Ele reconhece que a briga para não cair é algo estranho.

- O Flamengo não entrou na zona de rebaixamento em nenhum momento. Está do meio para baixo, numa situação desconfortável. Para quem está acostumado a estar na parte de cima da tabela, é complicado. O discurso é diferente. Se a equipe não está redonda, tem de mexer de uma maneira diferente - comentou.

O Flamengo é o 14º na tabela, com 40 pontos, ainda ameaçado pelo rebaixamento. O time está três à frente do Avaí, 17º, que abre o Z-4. Neste sábado, Rubro-Negro enfrenta o Guarani, no Engenhão, às 19h30m (de Brasília). O Bubre também corre riscos. É o 18º, com 37.

- No Flamengo é assim: quando está em cima, é maravilhoso. Quando está na parte de baixo, é pancada. Quando está para conquistar campeonato é tudo perfeito. Temos de ter discernimento. Eu tenho que trabalhar. Se tivesse continuado no Atlético-MG, com o trabalho fluindo, não teria vindo para cá. Mas já que estou aqui, estou empenhado do mesmo jeito. É assim que a vida toca. Tem de trabalhar – disse, ao comentar seu empenho nesta reta final de Brasileirão.

Por: Richard Souza

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