sexta-feira, 22 de abril de 2011

Bonde sem freio x Império do Amor: parecidos dentro e fora do campo

Nos primeiros 20 jogos de 2010 e 2011, times conquistaram o mesmo número de pontos. Hábitos nas noitadas também são parecidos


O argumento de Vanderlei Luxemburgo para dizer “não” a uma possível volta de Adriano (agora no Corinthians) foi a nova filosofia do Flamengo, pautada na disciplina. Manter a ordem tornou-se uma tarefa diária para a comissão técnica e a diretoria. Ainda assim, alguns atrasos têm feito parte da rotina do grupo, inclusive com reincidências. A assiduidade nos treinos prevalece, mas o desempenho dos atletas nas noitadas é forte. O apelido “bonde sem freio”, aliás, surgiu nas repetidas reuniões dos solteiros da equipe. Excetuados os escândalos públicos, hábitos muito parecidos com os daqueles que marcaram o Império do Amor, em especial no primeiro semestre do ano passado.


montagem Flamengo bonde x império do amor (Foto: Editoria de Arte / GLOBOESPORTE.COM)


Assim como o Bonde sem freio, Império do Amor viveu boa fase. No fim, escândalos e eliminações (Foto: Editoria de Arte / GLOBOESPORTE.COM)

Com a bola em jogo, o aproveitamento é idêntico. Nos primeiros 20 jogos oficiais de 2010, o time que tinha o Imperador e Vagner Love como astros fez 48 pontos. Foram 15 vitórias, três empates e duas derrotas e nenhuma taça. Descontados os dois amistosos da pré-temporada (empate com Londrina e vitória sobre o América-MG), a equipe de Luxemburgo disputou a mesma quantidade de partidas e alcançou pontuação igual. A diferença é que ainda não perdeu: 14 vitórias e seis empates e conquistou um título (a Taça Guanabara). Detalhe: além do Carioca, o time Andrade disputava a Libertadores, uma competição mais difícil do que a Copa do Brasil que o Rubro-Negro encara atualmente.


Os primeiros quatro meses do ano passado foram de um império desgovernado, em ebulição constante. Desde a pré-temporada em Porto Feliz-SP, uma série de problemas marcou a trajetória do Fla. Percalços que vieram junto com a conquista do Campeonato Brasileiro de 2009. O acerto com Vagner Love foi a quase solitária boa notícia. Quando voltou ao Rio de Janeiro, os jogos do Carioca começaram. Conforme as rodadas foram passando, os problemas foram se desvendando, numa espécie de efeito dominó. Mas enquanto o Império do Amor fazia mais gols do que o time sofria, e as vitórias apareciam, estava tudo bem. A presidente Patricia Amorim tolerava regalias, apesar de não gostar da sensação de anarquia.

- Enquanto a bola estiver entrando, está tudo bem. Guardo e toco para frente – disse na época.


O então vice de futebol Marcos Braz confirmou que Vagner Love e Adriano tinham direito a privilégios. A argumentação era de que a dupla abrira mão de muito dinheiro para jogar no Flamengo. A posição desagradava Petkovic, que fora afastado dos treinos com o grupo após o Fla-Flu de 31 de janeiro, quando discutiu com Marcos Braz.


Antes de Pet ser reincorporado, Leonardo Moura e Álvaro discutiram asperamente durante o jogo contra o Boavista, no dia 6 de fevereiro, em Volta Redonda. Durante o carnaval, também houve pequenos atritos entre a comissão técnica. No jogo seguinte, o sérvio voltou a jogar (substituindo Vinícius Pacheco durante o jogo), mas o Flamengo perdeu a semifinal da Taça Guanabara para o Botafogo, no dia 17 de fevereiro.


Adriano, do Flamengo, ao lado da noiva Joana Machado (Foto: Agência Estado)


O conturbado relacionamento de Adriano chegou ao
clube no episódio da Chatuba (Foto: Ag. Estado)

Iniciada a Taça Rio, novos problemas. Sem Adriano e Kleberson, convocados para o amistoso da Seleção Brasileira contra a Irlanda, em Londres, o time começou a competição goleando o Macaé e vencendo o Madureira. Mas logo após esses dois jogos, veio o notório episódio na Chatuba. O Imperador voltou da Inglaterra diretamente para a farra com companheiros de Flamengo, entre eles Álvaro e Bruno. Quando estavam em um bar da favela, a então noiva do atacante, Joanna Machado, apareceu na favela como um furacão, discutindo com Adriano e depredando alguns carros. E o goleiro Bruno, ao tentar defender o colega, ainda fez uma pergunta com teor machista: "quem nunca brigou ou até saiu na mão com a mulher?". O camisa 1 levou uma dura da presidente Patricia Amorim e teve que se retratar.


Dias depois, o casal apareceu de mãos dadas na Gávea quando o atacante iniciou a etapa de treinos de recondicionamento físico. Mesmo visivelmente fora de forma, voltou ao time contra o Vasco, marcando o gol da vitória, dia 15 de março. Foi a partir deste jogo que Vagner Love passou a ter de responder publicamente por suposto envolvimento com traficantes, após ter sido flagrado entre eles numa festa na Rocinha. E dias depois, Adriano teve que dar explicações à Polícia sobre uma motocicleta que teria dado de presente à mãe de um acusado de ser chefe do tráfico de drogas.


Quando o Império do Amor saiu do foco policial (os dois atacantes tiveram que depor sobre o envolvimento com traficantes) e tudo parecia ter acalmado, Adriano desfalcou o time em jogos importantes por causa de dores lombares. Mas o foco deixou de ser o Imperador justamente em uma dessas partidas em que ele esteve ausente da competição sul-americana. Na derrota do Fla para o Universidad Católica, em Santiago, por 2 a 0, em 14 de abril, Bruno e Petkovic brigaram no intervalo.


No Estadual, o Flamengo buscava o tetracampeonato. Na final da Taça Rio, enfrentou o Botafogo, adversário que derrotara nas últimas três decisões. Desta vez, o desfecho foi outro. Mesmo com Adriano e Love, acabou superado pelo rival, por 2 a 1, no Maracanã, no dia 18 de abril.


Em 23 de abril, Patricia Amorim comunicou ao vice de futebol Marcos Braz, ao técnico Andrade e ao diretor de futebol Eduardo Manhães que eles estavam demitidos.


A campanha do campeão brasileiro na primeira fase da Taça Libertadores foi decepcionante. Ainda assim, conseguiu se classificar para a fase seguinte. Depois de superar o Corinthians nas oitavas de final, o Império do Amor sucumbiu ao talento do meia argentino Montillo, hoje no Cruzeiro, decisivo para o Universidad de Chile nas quartas.

Em 2011, quem freia o Bonde?


Luxemburgo resolveu acionar a trava de emergência do Bonde sem freio nos últimos dias de março. No dia 30, o treinador reuniu o grupo e decretou restrições sobre as noitadas. Se durante o carnaval ele marcou treinamentos em horários que permitissem a folia dos comandados, desta vez, a ordem foi diferente. Ele pediu de forma enfática e textualmente para que os jogadores “pisassem no freio” e evitassem excessos. Para se certificar de que seria atendido, planejou um retiro em Atibaia, no interior de São Paulo. Foram cinco dias de treinos e concentração absoluta para tentar melhorar um ambiente confuso e trabalhar para os jogos decisivos da Taça Rio de da Copa do Brasil.


Luxemburgo treino Flamengo (Foto: Fábio Borges / VIPCOMM)


Luxemburgo em conversa com os jogadores do Flamengo (Foto: Fábio Borges / VIPCOMM)

Antes da viagem, os jogadores negaram exageros noturnos. Léo Moura foi um deles.


- Cada um tem sua vida particular. Sabemos que tem o momento de sair e o momento de nos resguardar. Mas temos de viver, somos seres humanos, não somos diferentes - afirmou o lateral-direito.


Os últimos acontecimentos, no entanto, demonstram que o freio se faz necessário. Na madrugada de segunda para terça, às vésperas do jogo contra o Horizonte-CE, pela Copa do Brasil, houve uma festa no apartamento de Ronaldinho Gaúcho, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, que só terminou com o nascer do sol. E com a presença de alguns jogadores. Recentemente, um dos atletas se envolveu numa confusão pública ao ser flagrado pela esposa na companhia de outra mulher.


As regalias, pelo menos por enquanto, não são permitidas. Ronaldinho, o astro da companhia, jamais faltou aos treinos e cumpre horários com assiduidade quase militar. O desempenho do camisa 10, no entanto, começa a ser questionado pelos torcedores. Atuações aquém do esperado e o pênalti perdido contra o Macaé, domingo passado, não foram bem digeridos pelos rubro-negros. Em alguns momentos do empate por 1 a 1 com os cearenses, no jogo de ida das oitavas de final, a torcida chiou como ainda não havia feito. Após a confronto, Vanderlei Luxemburgo não defendeu o jogador.


- O Ronaldo tem que entender que aqui é Flamengo. Se não jogar bem, vai ser vaiado. O Adriano também foi vaiado. O Ronaldo pode ser vaiado, pode ser criticado. Ele sabe que a torcida do Flamengo vai cobrar uma performance sempre melhor. Ele foi contratado para isso. Cabe a ele buscar dentro de campo algo para não ser vaiado. Ou ele, ou o Deivid, que foi vaiado outras vezes. Qualquer atleta está aí para ser vaiado, essa é a história do clube.



Por: Richard Souza

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